domingo, 7 de abril de 2013


-
-Corto negro corte.
Corto a direito as linhas dos teus cabelos frios.
O dorso, negro corte desses lábios em flor.
.
Corto claro corte.
Corto em ondas os teus braços colados aos meus.
O remo, claro corte na transparência de licor.
.
Corto chama ardente.
Corto inflamado o desejo trespassado pela dor.
A rosa, o espinho com decote duplicado.
.
Corto morte em contramão.
Corto estrada, a pedra muda cai dos céus.
A escura terra sobre os olhos, a lama com(paixão).
.
Corto vida negra em corte claro.
Morte em chama, desejo em onda,
rosa de transparência em remo sem cor.
.
Corto os céus em corte duplicado.
Corto terra em deslize pelos braços,
os lábios inflamados pela chuva da manhã.
.
Corto negro peito.
Corto asas, esqueço a lama e o decote.
Corto o claro que me encha de luz o coração.
.
Corto pedra em pele de corte.
Corto teus cabelos em quente dorso.
Em licor me denuncio, em perfume me abstraio.
.
Corto a insónia, corte ao respirar.
Corto esta ansiedade, corto negra lua.
Vestes estendidas em sangue espiral.
.
Corto negra a minha noite em corte.
Não corto clara, porque ela não é tua.
Corto tudo, corta-me a saudade instransponível.
.
Corto nada, que não sei o que cortar.
Corto tudo para me explicar em retalhos.
Corto negro o corte claro e sem rodeios:
.
         corto o fim.

-
-
-
rain

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Com gestos relevantes




Com gestos
relevantes, contrafeitos,
Desenvolvo
barcos de papel anormais,
Sem título,
sem mar, sem luz nem estilo.

Corto
parágrafos em águas profundas,
Lanço a
âncora pintada de fresco
Rumo ao abismo desnivelado
Dessa
envergadura de braços negros
Sobrepostos
em meu redor.

Tinjo os
ecos, contemplo os corais
Trazidos
pelas marés vivas
Para a
varanda da minha casa
Virada para
os ritmos de Este.

Um pincel
dissolve-se na espuma das horas grenás.
Aquele que
já não uso para as telas de nevoeiro
Que outrora
eu imaginava de forma constante.

As velas –
feitas de telas – choram por mim
Aquela dor
que nos meus olhos
Secando a
flor deslumbrante de cores vivas
Que outrora
perfumava o tempo.

Com gestos
relevantes os canhões incendiaram-se
E o meu
casco sofreu rombos irreparáveis na estrutura.

“ Capitão,
capitão!”
“Que se
passa meu camarada?!”

(Olhar pesado, tempestade na calmaria suave estendida
até ao horizonte).

“ Capitão… a
sua alma…”
“Que tem,
rapaz?!”
“À deriva,
meu capitão. À Deriva!”

(Ao leme do meu corpo esbate-se a fúria
secreta de sorrir em silêncio
Relembrando os beijos de proa a proa, em
noites e noites
Temperadas de sal).

“Deixem-na ir”
“Mas… capitão…!?


“Ela há-de regressar a casa um dia, quando
as nuvens se dissiparem e o céu azul tombar no meu coração”.


rainbowsky


sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Sinfonia em sete tons




Música,
monstros alinhados no banco branco junto da parede
submersa pelo cais das interrogações.

Cravos,
luzes da ribalta espelhando na carpete vermelha
onde se repetem os termos da aparência.

Anémonas,
um circo de trevas amarguradas na amargura da monotonia
borbulhando em quimeras de areia pálida.

Fechaduras,
bagos de arroz alongados e translúcidos
fecundados pela fome.

Estações,
partidas e chegadas no subsolo crítico da solidão
em quatro prantos de sol e neve.

Personagens,
entoações diversas numa espiral de monólogos descoloridos
feitos à medida da minha imensurável nostalgia.

Viagens,
beijos aos solavancos numa enseada de estrelas
como dedos salivando notas numa guitarra.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Elas teimam em ficar...





Dividir.

Cinco dedos apertados.
Um casaco de malha.
Cor de Outono incurável.

Unir.

Braços corrompidos pela saudade.
Sorrisos tolos de face a face.
Pele do rosto iluminada.

Sucumbir.

À energia fundamental.
Ao amor feito de verdade.
À respiração invertebrada.

Alto.

Que voa em mim arame farpado.
Que cai ferro puro dos meus olhos.
Que sou prisão com grades feitas de mim.

Noite.

Onde as lembranças não partem.
Onde tu pareces não chegar.
Onde as lágrimas teimam em ficar.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Saudade sem fim...




Alcalinas. Palavras em teus braços dispersas.
Alcalinas. Sílabas de âmbar em tormento.
Alcalinas. Letras gastas, controversas.
Alcalinas. Declamadas em movimento.
.
As saudades.
.
Alcalinas
Saudades que duram
e duram
até à

frágil
e----x----p----l----o----s----ã----o

da noite interminável
que parece nunca
querer morrer

em mim.


Saudade e dor sem fim.